quarta-feira, agosto 18, 2010

terça-feira, janeiro 23, 2007

Reedições (2)

"It’s So Hard To Tell Who’s Going To Love You The Best" by Karen Dalton.
(2006 / megaphone)

O ano de 2006 não contou apenas com a reedição de “In My Own Time” de Karen Dalton, também foi reeditado uma outra obra sublime, que data originalmente de 1969, da qual agora se escreve e que tem um título que a define tão bem: “It’s So Hard To Tell Who’s Going To Love You The Best”. Aqui deparamo-nos com Dalton assombrada pelos seus fantasmas a assombrar o ouvinte com os seus magníficos blues. Ouvimo-la de forma cúmplice, pois desta vez encontramo-la entregue apenas à sua guitarra ou ao seu banjo, a definir uma entidade feminina de referência no meio... aqui temos blues a sério. A história da música parece no entanto ter passado bem sem ela – erro crasso esse -, por muito que músicos de calibre chamam-se a atenção para Dalton. Nick Cave ou Devendra Banhart tecem-lhe elogios; por outro lado, podemos encontra-la em fotografias com uma figura como Bob Dylan; este que a defende como sendo a sua cantora preferida. Existem razões para tal alarido e grande parte delas podem ser encontradas neste disco. Que o erro, depois da sua morte, seja então corrigido. (9,5/10)

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Reedições (1)

"In My Own Time" by Karen Dalton.
(2006 / Light in the Attic)

Torcesse o nariz quando se ouve a versão soul de “When a man loves a woman”, e tudo que se pode dizer para acusar esta obra de possivel desinteresse está dito. Também não interessa, em seguida ouve-se “In My Own Dream” e depois “Katie Cruel” e já não há volta a dar atrás. Deixamo-nos transportar no tempo, para uma época que não é esta – até porque o disco foi lançado originalmente em 1971 – e aí ficamos a pairar deliciados nesta música de enorme afectividade a blues, folk, country e soul. Vai-se ouvindo cantar o amor, como se quer que se cante; a melancolia, com a nostalgia requerida e a opressão com toda a contenção necessária; de uma voz extraordinária com uma sensibilidade marcante. E depois é a vez de dar o veredicto final, e “One Night Of Love” dita definitivamente: este é um álbum superior. Podia ser Billie Holiday, mas não é... é alguém com a mesma profundidade e talento – pasme-se. (9/10)

terça-feira, janeiro 16, 2007

Híbridos (3)

"Happy New Year" by Oneida.
(2006 / jagjaguwar)

Dada a sua irregularidade sonora, “Happy New Year” foi um daqueles álbuns que se estranhou nas primeiras audições que se fizeram dele. No entanto voltou-se (voltasse) a ele com bastante frequência, visto que havia sempre uma ou outra canção que fazia sentido ouvir em determinado momento; e pelas partes ouvidas em separado ganhou-se assim a consciência de um todo que pode adquirir justamente a sua lógica desta forma. O disco anterior de Oneida, “The Wedding” - igualmente magnífico -, também era desafiante nesse aspecto, se bem que agora está bem mais acentuado. Pode-se fazer uma comparação directa ao método criativo de Primal Scream, no corrosivo “Evil Heat”, se quisermos; mas também a Soft Machine. Ou seja, leva-se o mais longe possível os elementos da música que inspira estes grupos, criando um rock praticamente disfuncional, que sorve ainda vários elementos estranhos ao seu meio; mas que mesmo assim, em territórios inóspitos, consegue revelar as suas virtudes. Um estilo destes, ainda não está classificado de todo, no entanto consegue ser belo, e Oneida provam justamente isso com este excelente disco. (9,5/10)

sábado, janeiro 13, 2007

Híbridos (2)

“YoYoYoYoYo” by Spank Rock.
(2006 / Big Dada)

Aqui temos um exemplo concreto da capacidade que o hip-hop tem para sofrer metamorfoses e se reinventar; no entanto, desta vez a transformação foi tal, que “YoYoYoYoYo”, o disco de estreia de Spank Rock, tem de ser colocado à margem de um qualquer estilo já definido. De facto não será correcto de todo classificar esta obra do duo vindo de Baltimore e NYC, pois não se sabe em concreto o que uma música que assimila influências do hip-hop, house, tecno, electro, grime ou tecno, é.... Neste caso sente-se que não existe a necessidade de se criarem barreiras para a construção de uma linguagem própria, por excelência física e pujante; por isso esta é uma música de impulsos e sem preconceitos... música que merece, e deve, ser ouvida. (9/10)

Híbridos (1)

Não se sabe bem o que são, se isto, aquilo, tudo ou nada disso... Essa característica torna-os justamente tão desafiantes, e nos casos em questão, irresistivelmente estimulantes. Quem está em questão são as descaradas Cansei de Ser Sexy (magnífico nome, este), os melómanos Oneida e os impulsivos Spank Rock. Admiráveis casos de vitalidade artística do ano de 2006. Para já, escreve-se sobre Cansei de Ser Sexy.

"Cansei de Ser Sexy" by Cansei de Ser Sexy.
(2006 / Sub Pop)

É impossível não se ficar bem disposto com o álbum homónimo das Cansei de Ser Sexy, colectivo vindo de São Paulo. Aquilo que está representando no disco não será propriamente a cultura do país de onde são originais, será antes uma mescla de diferentes correntes musicais urbanas da Pop mais imediata (sobretudo da nipónica) a colapsarem com uma abordagem Indie de criação musical num caldeirão de humor insolente que torna este disco irresistível. Vêm à memória LCD Soundsystem, Hole, Peaches, Daft Punk, Le Tigre; assim como, sem perder credibilidade, casos aberrantes da Pop que tinham justamente a pretensão de criar música como a que se ouve neste disco - como que, se as “Sailor Moon” irrompessem num filme de Hayao Miyazaki. E é de facto de louvar que nada disso é dissimulado, sendo apenas apresentado com a maior das simplicidades, por isso merecem todo o mérito por conseguirem tal habilidade. (8,5/10)